Nampula apresenta passos significativos na mitigação dos impactos das mudanças climáticas na Saúde
“A primeira vez que fui ao Centro de Saúde estava a sentir muitas dores no corpo e dor de cabeça, eu pensava que tinha malária. Quando cheguei no Centro de Saúde, a doutora fez consulta e depois mandou fazer teste de malária, mas quando saiu resultado ela disse que não tinha malária”.
Saíde Issufo tem 24 anos de idade, apresentou-se ao Centro de Saúde de Muhala Expansão com sintomatologia suspeita de malária e, seguindo o procedimento normal, o enfermeiro que o atendeu solicitou um teste de malária, que foi negativo. Foi neste instante que foi solicitada a Enfermeira Júlia Luís, ponto focal da vigilância epidemiológica no âmbito do projecto Saúde e Clima, visando a vigilância ou rastreio de doenças resultantes de alterações climáticas.
Segundo a enfermeira Júlia Luís, “este é o caso típico de pacientes que são submetidos ao rastreio de doenças sensíveis ao clima, cujos vectores são similares aos vectores de outras doenças recorrentes, ele apresenta sintomas iguais aos da malária, mas o teste dele deu negativo à esta doença. Por isso, depois do seu consentimento, ele foi submetido ao rastreio de Dengue e Chikungunya, e já foi feita a colheita de amostra para o rastreio destas doenças”.
“Ao nível da província de Nampula foram criados dois postos sentinela no âmbito do projecto Saúde e Clima apoiado pela Organização Mundial da Saúde, onde fazemos rastreio de doenças como a Dengue e Chikungunya, para que possamos fazer o levantamento da situação epidemiológica da província. Com base nos resultados obtidos até então podemos afirmar que existem vectores para a transmissão destas doenças”, explica Nádia Muate, Responsável Provincial do projecto Clima e Saúde.
Alguns dias depois, Saíde voltou ao Centro de Saúde Muhala Expansão para levantar os resultados dos seus exames. A enfermeira voltou a conversar com Saíde para explicar o resultado do exame, que fora positivo a Dengue, de modo a esclarecer sobre a doença, os sintomas, e como deve proceder com a medicação para a sua cura. Igualmente, era importante enfatizar a relevância da sua participação no estudo, que irá contribuir para buscar soluções para o problema, não só para Saíde, como também para outros cidadãos da província e de todo o país.
“Eu não sabia que havia outras doenças parecidas com malária, agradeço a doutora por fazer o acompanhamento e fazer mais exames, comecei a tomar os comprimidos que deram e já estou a me sentir muito bem”, descreve Saíde, com ar de satisfação e alívio.
Este é um dos vários casos que diariamente têm sido detectados e rastreados nos diversos postos sentinela por todo o país, numa média de 8 a 10 casos por semana que, à semelhança de Nampula, buscam criar uma base científica para explicar os efeitos dos vários eventos climáticos no sector da Saúde em Moçambique.
“Os resultados que temos obtido nos postos sentinela permitem-nos antecipar certos casos e a prestar mais atenção a alguns vectores que favorecem a ocorrência dessas doenças na província. Então, sempre que um/a paciente vem à unidade sanitária com sintomatologia sugestiva à malária, mas cujo teste dê negativo à malária, abre espaço para considerar vectores destas outras doenças. Isto tem nos ajudado na realização de campanhas de sensibilização para eliminar habitats destes vectores”, descreve Nádia Muate, Responsável Provincial do projecto Clima e Saúde
Segundo esta profissional da Delegação do Instituto Nacional de Saúde na Província de Nampula, a colaboração com a OMS e outros parceiros de cooperação tais como o Governo do Flandres neste caso é capital para o sistema de Saúde como um todo, porque permite trazer ao de cima as evidências sobre o ponto de situação de questões de saúde pública. E, no âmbito deste projecto, estão em curso, de forma contínua, formações e capacitações dos técnicos das unidades sanitárias, de modo que tenham a capacidade de vislumbrar outros horizontes ou possibilidades de intervenção em casos semelhantes, principalmente quando não se tem respostas concretas aos problemas de saúde da comunidade. Estes técnicos irão assegura o funcionamento eficaz e continuidade dos trabalhos desenvolvidos ao nível dos postos sentinela.