Campanha de vacinação contra a cólera em Angola: Uma resposta coordenada para salvar vidas
Após semanas de angústia e incerteza, o sol volta a brilhar no bairro do Paraíso, em Cacuaco. Na sua cadeira de rodas, António é conduzido até à equipa de vacinação no centro comunitário local. Outrora cheio de preocupação e tristeza, o seu olhar transmite agora alívio e gratidão. A cólera que devastou tantas vidas no seu bairro deixou um rasto de dor. Ele perdeu amigos e vizinhos. No entanto, quando se aproxima da equipa de vacinação, surge um sorriso genuíno. “Sinto-me mais aliviado; considero-me imunizado; a minha alegria resume-se em poucas palavras - Obrigado, as vacinas salvam vidas!”, declara emocionado.
O Bairro Paraíso é o epicentro do surto de cólera que assola Angola desde o primeiro caso confirmado a 7 de Janeiro de 2025. Em resposta a esta emergência de saúde pública, o Ministério da Saúde, com o apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Banco Mundial, levou a cabo uma campanha de vacinação para imunizar cerca de 930.000 pessoas com um ano de idade ou mais nas províncias mais afectadas pela cólera, nomeadamente Luanda, Bengo e Icolo e Bengo. O objectivo é travar a propagação da doença e proteger a população para evitar mais perdas de vidas.
Para António, para além de um meio de prevenção, a vacina é uma nova oportunidade para a sua comunidade. “Com esta vacina, sei que vamos estar mais protegidos. Com a disponibilidade de água potável e se todos cumprirmos as medidas de saneamento básico, a nossa comunidade pode retomar as actividades e viver sem medo”, diz, aliviado. “Agora as crianças vão poder ir à escola sem medo que lhes aconteça alguma coisa”.
Até 12 de Fevereiro de 2025, Angola registou 3.402 casos de cólera e 114 óbitos, com o surto a afectar as províncias do Kwanza Sul, Cunene, Luanda, Huambo, Huíla, Icolo e Bengo, Bengo, Malanje, Zaire e Kwanza Norte. O Ministério da Saúde, com o apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de outros parceiros, tomou medidas urgentes como o reforço da capacidade dos profissionais de saúde, a distribuição de soluções de tratamento de água, a implementação de medidas de saneamento básico e a mobilização das comunidades. A vacinação, no entanto, é uma resposta decisiva para limitar os danos e proteger as populações vulneráveis.
“As Nações Unidas, os parceiros e o sector privado estão aqui para apoiar e trabalhar ao lado do governo nesta missão”, diz a Dra. Zahira Virani, Coordenadora Residente do Sistema das Nações Unidas em Angola. “A campanha de vacinação é um marco importante, e a minha mensagem é simples: vacine-se, proteja-se e ajude a divulgar informações corretas sobre a prevenção.”
A campanha de vacinação contra a cólera decorreu de 3 a 7 de Fevereiro de 2025 e a estratégia adoptada incluiu a instalação de postos fixos em locais estratégicos, como unidades de saúde, centros de saúde, igrejas e orfanatos, bem como equipas móveis que se deslocaram pelas comunidades mais remotas para garantir que ninguém ficava para trás.
“As equipas móveis tiveram um papel fundamental. Foram ao encontro da população nos locais mais remotos, o que fez toda a diferença”, explica a Dra. Maria Quaresma Gomes dos Anjos, Oficial de Imunização da OMS em Angola. E acrescenta: “Com o reforço da mobilização e apoio das comunidades, tivemos uma adesão positiva e conseguimos atingir 99,5% de cobertura graças ao forte trabalho de envolvimento e sensibilização das comunidades.”
Com o esforço de mais de 1.974 equipas de vacinação, António, juntamente com muitos outros cidadãos, recebeu a proteção necessária contra a cólera. “A minha comunidade e eu não temos palavras para agradecer ao governo e a todos os parceiros por nos informarem sobre a prevenção da cólera e trazerem soluções práticas, como o tratamento da água, a manutenção de boas práticas de higiene e a vacinação. Com esta vacina, podemos estar protegidos e salvar vidas”, afirma António.
Para a comunidade de Cacuaco, onde a cólera causou tantas perdas, a vacinação é mais do que uma medida de saúde pública. Representa uma oportunidade para um novo começo, onde as famílias podem viver sem o medo diário de perder um ente querido devido à cólera. António e tantas outras famílias, agora protegidas, podem olhar para o futuro com mais esperança, sabendo que estão protegidas e podem contribuir para conter o surto de cólera e salvar vidas.
No entanto, a vacinação por si só não é suficiente para erradicar a cólera. Para prevenir novos surtos, proteger a saúde da comunidade e garantir uma proteção eficaz e duradoura, a OMS recomenda outras medidas bem conhecidas, como água potável, boa higiene, vigilância adequada e gestão rápida dos casos.
“Com determinação, solidariedade e medidas eficazes, venceremos a cólera. A vacinação contra a cólera não é apenas uma medida de saúde pública. Mas, mais do que isso, é um compromisso com um futuro saudável para todos e com o progresso e prosperidade do nosso país”, afirma a Ministra da Saúde de Angola, Dra. Sílvia Lutucuta.