Maria da Graça, residente no município de Chitato, recorda com tristeza um dos momentos mais difíceis da sua vida. Em 2024, a sua filha mais velha, então com quatro anos, adoeceu com sarampo. "Começou com febre, depois apareceram as manchas. Ficou muito fraca. Tive medo de a perder", conta Maria, com os olhos marejados. Embora a sua filha tenha sobrevivido, a doença deixou marcas profundas e um medo que nunca mais a abandonou.

A história de Maria é partilhada por muitas famílias em Chitato,   Dundo e Mussungue, os três municípios que registaram mais de 200 casos de sarampo entre novembro de 2024 e março de 2025. A maioria das pessoas afectadas eram crianças com menos de cinco anos, o grupo mais vulnerável à doença.

"O sarampo é altamente contagioso e perigoso. Pode provocar complicações graves como pneumonia, diarreia, cegueira e até levar à morte", explica Augusto Muachissaco, director municipal de saúde de Chitato. "As crianças entre os seis meses e os quatro anos são as mais vulneráveis. Se não agirmos agora, os casos continuarão a aumentar e mais vidas estarão em risco."

Para conter a propagação da doença e proteger as crianças, as autoridades de saúde da Lunda Norte, com o apoio técnico e logístico da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizaram uma campanha intensiva de vacinação contra o sarampo e a rubéola, entre 20 e 25 de março de 2025.

"A OMS trabalhou em estreita colaboração com as autoridades sanitárias locais para garantir vacinas seguras, profissionais capacitados e uma campanha eficiente, capaz de alcançar todas as crianças, mesmo nas zonas mais remotas", afirmou a Dra. Noémia Silva, oficial de imunização da OMS em Angola.

A campanha contou com postos fixos de vacinação em unidades sanitárias, escolas e comunidades, bem como com equipas avançadas nas comunidades, garantindo que nenhuma criança ficasse para trás. Assim que soube da campanha, Maria levou também o seu filho mais novo, com um ano de idade, ao posto montado na escola do seu bairro. "A vacina é uma garantia de que não voltaremos a passar pela mesma angústia. Agora os meus dois filhos estão protegidos."

Graças ao esforço colectivo, quase 30.000 crianças foram vacinadas nos três municípios. Milhares de famílias estão agora mais seguras, informadas e mais preparadas para proteger os seus filhos de possíveis ameaças à saúde.

A iniciativa da província da Lunda-Norte ecoa profundamente como um apelo à acção colectiva, numa altura em que o continente africano celebra a Semana Africana de Vacinação, sob o tema "A vacinação para todos é humanamente possível". Esta acção demonstra que, com iniciativas locais, apoio de todos e o envolvimento activo da comunidade, é possível avançar para a "Grande Recuperação de Crianças Zero-Dose" e proteger os cidadãos de doenças evitáveis.

O sarampo é uma das doenças mais contagiosas do mundo, mas é também totalmente evitável através da administração de uma vacina segura e eficaz. Vacinar é um acto de amor, responsabilidade e esperança. Juntos, podemos eliminar o sarampo e salvar vidas.