O envolvimento comunitário no combate à cólera em Angola: Sr. Celestino Mbambali ‘‘O Salva-Vidas’’

O envolvimento comunitário no combate à cólera em Angola: Sr. Celestino Mbambali ‘‘O Salva-Vidas’’

Durante mais de vinte e cinco anos de voluntariado na sua comunidade, Celestino Mbambali, de 55 anos, testemunhou inúmeras emergências de saúde, incluindo surtos de cólera. Enfermeiro de profissão, sempre se preocupou com a falta de um posto de saúde no seu bairro e, movido pelo compromisso com os seus vizinhos, decidiu agir. No espaço improvisado que construiu junto à sua casa, atende diariamente os moradores, garantindo que tenham acesso aos primeiros socorros sem precisar de enfrentar longas distâncias.

Diante da modesta estrutura de chapa que ergueu com as próprias mãos, Celestino afirma: “Aqui, vizinho é família. Cuidar da minha comunidade é um dever e um prazer. Desde casos de malária a doenças diarreicas, estou sempre disponível para ajudar.”

Morador do bairro Ngueto Maka, município do Cabiri, no Icolo e Bengo, Celestino tornou-se uma referência em saúde para os seus vizinhos e é carinhosamente tratado como o ‘’salva-vidas’’ do seu bairro. Quando soube do surto de cólera pela rádio, Celestino iniciou uma campanha incansável de sensibilização porta a porta e com os seus pacientes, alertando sobre a importância do consumo de água tratada, da higiene das mãos e da manipulação segura dos alimentos. Com 512 casos e 19 óbitos registados até o dia 17 de Fevereiro na província, Celestino tornou-se um aliado essencial na vigilância epidemiológica, reportando prontamente os casos suspeitos às autoridades sanitárias.

“Até agora, atendi 16 casos suspeitos de cólera, dos quais 10 foram confirmados. Graças ao apoio das autoridades sanitárias, todos os pacientes tiveram acesso imediato ao tratamento e regressaram às suas casas em vida.”

O esforço de Celestino e outros voluntários comunitários tem sido essencial num momento crítico para Angola, que enfrenta um surto de cólera em dez províncias, com um total de 4.235 casos e 150 óbitos. "Com a sua rápida acção e proximidade da comunidade, conseguimos diminuir bastante o risco de mortes por cólera. Sempre que ele nos avisa sobre um caso suspeito, enviamos logo a ambulância para assegurar que o paciente seja transferido para o tratamento necessário. A colaboração com os voluntários comunitários tem sido essencial para salvar vidas, sobretudo em locais mais afastados dos centros de saúde.’’ Afirma Dr. Santos, Director Municipal de Saúde de Catete.

A luta contra a cólera não é individual, e Celestino conta também com o apoio de agentes de desenvolvimento comunitário (ADECOs) que reforçam a mobilização social. Com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), como parte da resposta ao surto, em todo o país, têm sido promovidas acções de sensibilização porta a porta, sessões educativas e distribuição de materiais informativos sobre a prevenção da doença, reforçando a consciencialização das famílias sobre práticas seguras de higiene e saneamento.

A OMS tem desempenhado um papel fundamental na resposta ao surto de cólera em Angola, colaborando estreitamente com o Ministério da Saúde (MINSA), o Ministério da Energia e Águas (MINEA) e o Gabinete Provincial de Saúde para conter a propagação da doença. ‘‘Com uma abordagem comunitária, a OMS tem facilitado a implementação do Plano Nacional de Resposta à Cólera, mobilizando recursos humanos e materiais para as províncias afectadas e reforçando a monitorização epidemiológica, essencial para a contenção do surto.’’ Afirma Dr. Zabulon Yoti, Representante da OMS em Angola.

Além disso, tem apoiado a formação de mobilizadores comunitários em estratégias eficazes de comunicação sobre higiene, saneamento e detecção precoce de casos. Graças a esta coordenação, as respostas rápidas têm permitido a identificação, referência e tratamento céleres dos casos suspeitos.

A história de Celestino Mbambali demonstra o impacto que um indivíduo pode ter na protecção da sua comunidade, mas também destaca a importância da resposta coordenada entre autoridades locais, organizações internacionais e a sociedade civil. Com trabalho conjunto, solidariedade e informação, é possível salvar vidas e vencer a cólera.

‘‘Fico tranquilo por saber que temos um verdadeiro salva-vidas no nosso bairro. Quando comecei a ter os sintomas, fui rapidamente socorrido pelo Sr. Celestino e levado pela ambulância. Depois de duas semanas difíceis, pude finalmente voltar a casa, saudável e grato por tudo o que fizeram por mim.’’ Emocionado, relata Fernando Alberto, um dos pacientes recuperados com sucesso.

No contexto desta emergência de saúde pública, o Ministério da Saúde, com o apoio da OMS, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Banco Mundial, levou a cabo uma campanha de vacinação, de 3 a 7 de Fevereiro de 2025, para imunizar cerca de 930.000 pessoas com um ano de idade ou mais nas províncias mais afectadas pela cólera, nomeadamente Luanda, Bengo e Icolo e Bengo. A vacina oral contra a cólera está a ser utilizada para complementar outras medidas preventivas, incluindo a melhoria do acesso à água potável e a resolução de lacunas em matéria de saneamento e higiene.

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