Mensagem da Directora Regional da OMS para a África, Dr.ª Matshidiso Moeti
O paludismo tem sido um inimigo obstinado da saúde pública. Em 2021, causou a morte de 619 000
pessoas, das quais aproximadamente 96% viviam em África. É uma patologia 6 a 20 vezes mais provável
de se espalhar em ambientes propensos a mosquitos do que a variante Ómicron de sars-cov-2. A doença
já foi endêmica na maior parte do mundo, varrendo as Américas nos anos 1600 e chegando ao norte da
costa do Ártico e ao leste do Japão. Mas agora, temos ao nosso alcance a possibilidade de salvar
anualmente milhões de vidas evitando-lhes a doença e a morte causadas pelo paludismo, após novos
progressos rumo à eliminação da doença.
Hoje assinala-se o 16.º Dia Mundial de Luta contra o Paludismo e é uma altura apropriada para fazermos
um balanço do impacto devastador que o paludismo tem na vida das pessoas e no desenvolvimento
económico desta Região. Os esforços concertados produzem resultados positivos. Em 2021, graças às
acções conjuntas dos países e parceiros afectados pelo paludismo, as mortes por paludismo diminuíram
em comparação com 2020, apesar das consequências da pandemia de COVID-19.
Esse esforço encontra eco no tema deste ano: “É tempo de chegar a zero caso de paludismo: investir,
inovar, implementar”.
Em termos de progressos, apesar da pandemia, ficou demonstrado um compromisso sólido a nível
nacional, que resultou em muitos sucessos. Por exemplo, cerca de 75% dos 171 milhões de redes
mosquiteiras tratadas com insecticida (RMTI) planeadas foram distribuídas. O tratamento preventivo
sazonal do paludismo foi ainda mais alargado, alcançando quase 45 milhões de crianças em 15 países
africanos, ou seja um aumento significativo em relação aos 33,4 milhões em 2020, ao passo que os
serviços de teste e tratamento do paludismo foram mantidos. As disposições tomadas permitiram evitar
a ocorrência de mais de 1,6 mil milhões de casos de paludismo e 11 milhões de mortes por paludismo na
Região Africana da OMS entre 2000 e 2021.
Além disso, a primeira vacina contra o paludismo recomendada pela OMS para prevenir o paludismo em
crianças (também conhecida como RTS,S) está a salvar vidas. No Gana, no Quénia e no Maláui, onde quase
1,5 milhões de crianças receberam a vacina através de um programa-piloto coordenado pela OMS, há
uma diminuição substancial das hospitalizações por paludismo grave e uma diminuição da mortalidade
infantil. Pelo menos 28 países africanos manifestaram interesse em introduzir a vacina, devendo alguns
outros países iniciá-la no início de 2024. A procura sem precedentes da primeira vacina contra o paludismo
é considerada uma oportunidade para levar as crianças de volta aos serviços clínicos, para pôr em dia as
vacinas não administradas e intervenções de saúde infantil – incluindo o reforço da necessidade das
crianças dormirem todas as noites sob RMTI. É extremamente importante administrar esta vacina a
crianças. A OMS, a GAVI, a UNICEF e outros parceiros estão a trabalhar
no sentido de aumentar o abastecimento o mais rapidamente possível
para proteger crianças mais vulneráveis e salvar mais vidas.
De modo geral, em termos de redução da incidência do paludismo, oito países estão no bom caminho
para atingirem a meta da Estratégia Técnica Mundial 2025 (África do Sul, Cabo Verde, Etiópia, Gâmbia,
Gana, Mauritânia, Ruanda e Zimbabué). No entanto, 15 países alcançaram uma redução insuficiente,
enquanto 20 testemunharam estagnação ou acréscimo de casos. Dez países registaram aumentos nas
mortes por paludismo. Se quisermos alcançar as metas definidas para 2025 e 2030, teremos de acelerar
o ritmo dos progressos realizados.
Embora felicitemos os nossos Estados-Membros e parceiros de desenvolvimento pelas realizações
alcançadas ao longo do último ano, estamos muito preocupados com o facto de as mortes por paludismo
permanecerem inaceitavelmente elevadas e de os casos terem continuado a aumentar desde 2015. A
Região Africana da OMS, só por si, contabilizou, em 2021, cerca de 234 milhões de casos de paludismo e
593 000 mortes, suportando assim o fardo mais pesado de mais de 95% dos casos e 96% de mortes a nível
mundial. Por conseguinte, a nossa Região continua a ser a mais fustigada por esta doença mortal, em
parte porque demasiadas pessoas não têm acesso a intervenções preventivas e curativas. Quase 30% da
população na maioria dos países africanos não tem acesso aos serviços essenciais de saúde e a maioria
das pessoas enfrenta despesas inaceitavelmente elevadas com os cuidados de saúde. As desigualdades
significativas afectam os mais vulneráveis, as crianças e as mulheres, enquanto cerca de 80% dos casos de
paludismo e dos óbitos ocorrem em crianças com menos de cinco anos.
Para reverter estas tendências e acelerar o progresso, temos de repensar e revitalizar as nossas
estratégias, investindo, inovando e implementando com inteligência:
Em termos de investimentos, somos responsáveis pelo aumento do financiamento para intervenções de
combate ao paludismo, através de abordagens de cuidados de saúde primários, para que os serviços de
combate ao paludismo sejam acedidos pelas populações mais vulneráveis onde quer que se encontrem.
Em 2021, os países e parceiros endémicos mobilizaram apenas 50% dos 7,3 mil milhões de dólares
necessários a nível mundial para se manterem no caminho certo no sentido de derrotar o paludismo. Por
conseguinte, exortamos os nossos Estados-Membros a manterem o paludismo no topo das suas agendas
quando afectarem recursos à saúde.
Na inovação, existe uma grande necessidade de aumentar o número e a eficácia das ferramentas e
estratégias de controlo para que as intervenções possam ter um maior impacto. Neste contexto, a OMS
pré-qualificou recentemente novas redes tratadas com insecticida com dupla substância activa e vários
insecticidas para pulverização residual intradomiciliária. A nova distribuição da vacina RTS,S foi alargada
para além dos três países iniciais e estão em preparação vários outros produtos inovadores. São
necessárias novas ferramentas e estratégias para fazer face às ameaças da resistência aos medicamentos,
da resistência aos insecticidas e de novos vectores invasivos que comprometem os ganhos no controlo de
vectores. Neste sentido, lançámos recentemente duas estratégias para apoiar os países no continente
africano à medida que estes trabalham para construir uma resposta mais resiliente ao paludismo: (1) Uma
estratégia para travar a resistência aos medicamentos antipalúdicos e (2)
uma iniciativa para travar a propagação do novo vector invasivo do paludismo por Anopheles stephensi – um vector perigoso que se reproduz em áreas urbanas e tem o
potencial de aumentar a transmissão. A luta contra os vectores do paludismo exigirá acções
multissectoriais e o envolvimento de unidades administrativas e de comunidades descentralizadas para
sustentar a mudança de comportamento e a adopção destes instrumentos. Um novo quadro mundial
para responder ao paludismo nas áreas urbanas, elaborado em conjunto pela OMS e pela ONU-Habitat,
orienta os líderes e as partes interessadas das cidades. Entretanto, está prevista uma fase robusta de
investigação e desenvolvimento para trazer uma nova geração de ferramentas de controlo do paludismo
que poderão ajudar a acelerar o progresso em direcção às metas mundiais.
Por último, sobre a implementação. Vamos dar prioridade a este segmento como parte da campanha de
2023 e à importância crucial de alcançar as populações marginalizadas com as ferramentas e estratégias
disponíveis para reduzir a transmissão para ganhos presentes e futuros. A luta contra os vectores do
paludismo exigirá acções multissectoriais e o envolvimento das unidades administrativas e comunidades
descentralizadas para sustentar a mudança de comportamento e a adopção destes instrumentos.
Devemos capacitar os profissionais de saúde e as comunidades na linha da frente para participarem
plenamente na identificação das principais barreiras no acesso aos serviços, garantir a implementação
eficaz das estratégias de controlo do paludismo e responsabilizar os seus líderes pelos resultados na
saúde.
O Dia Mundial de Luta contra o Paludismo oferece-nos uma oportunidade para renovarmos os
compromissos políticos e reforçarmos os investimentos na prevenção e no controlo do paludismo. Por
conseguinte, apelo a todos os Estados-Membros para que redobrem o seu compromisso de implementar
um plano de aceleração ambicioso e inovador para reduzir rapidamente o fardo do paludismo e salvar as
vidas das suas populações. Isto pode ser feito garantindo que todas as pessoas, em todos os lugares, têm
acesso aos serviços de tratamento do paludismo de qualidade de que necessitam e a preços acessíveis.
Tudo este esforço exigirá uma compreensão mais granular de quem não está a participar, o motivo pelo
qual está vulnerável e quais são os seus obstáculos ao acesso aos serviços de prevenção e tratamento do
paludismo. Para o conseguir, os governos terão de mobilizar mais recursos e capacidades técnicas aos
níveis nacional e internacional e criar parcerias eficazes e mecanismos multissectoriais para ajudar a
reforçar as medidas preventivas e melhorar a cobertura dos serviços de gestão de casos de paludismo.
Junte-se à nossa campanha para eliminar o paludismo para todos!