Em Moçambique, as mães que amamentam são encorajadas a receber vacinas contra a COVID-19
O leite materno é o alimento mais robusto do ponto de vista nutricional e imunológico para os bebés. Lúcia Daude, residente no bairro Niassa 1 e mãe de quatro crianças decidiu fazer o aleitamento exclusivo com a sua criança mais nova de cinco meses, porque segundo ela, o leite materno é melhor do que o artificial. “À minha filha mais nova, eu tenho dado leite materno, porque no Centro de Saúde foi me recomendado dar leite materno às crianças dos 0 os 6 meses de idade. No passado, eu não conhecia a importância de dar o leite materno aos meus filhos. Numa altura em que eu estudava no período da manhã e a escola era muito distante da minha residência, decidi dar leite artificial a minha filha mais velha quando ela tinha apenas 3 meses. Infelizmente, ela teve diarreia logo depois de consumir esse leite e o seu crescimento físico foi inferior ao dos outros que receberão leite materno exclusivo”. Diz Lúcia
Lúcia Daude, agora consciencializada, recomenda às mães dar leite materno em vez de leite artificial.” Eu recomendo e encorajo a outras mães a dar leite materno às suas crianças, porque é muito saudável. Mas é importante que a mãe esteja limpa antes de amamentar a criança: lavando as mãos com água e sabão. Também é importante que a roupa tanto do bebé como da mãe esteja limpa durante o processo”. Acrescenta Lúcia
O leite materno alimenta o desenvolvimento cerebral, protege contra doenças e afecções e prepara a criança para uma melhor saúde e um futuro mais próspero. Como primeira vacina de um bebé, o colostro que é o primeiro leite que a mãe produz, quando começa a amamentar, impulsiona e reforça o sistema imunitário da criança. O colostro tem um enorme impacto na prevenção de doenças como a diarreia e a pneumonia.
De outro modo, as vacinas são eficazes para prevenir a COVID-19 em pessoas que estão a amamentar. Visto que pessoas que receberam vacinas COVID-19 têm anticorpos no seu leite materno, que podem ajudar a proteger os seus bebés, além disso o risco resultante da vacinação da mãe contra a COVID-19 é extremamente baixo, enquanto a interrupção da amamentação leva à uma perda dos seus benefícios para o bebé.
A pandemia COVID-19 mudou significativamente a forma como o apoio à amamentação é prestado. Muitas mães tiveram receio de amamentar seus bebês por medo de infectá-los. Por outro lado, as regras de distanciamento físico significaram menos contactos com algumas pessoas que podiam apoiar a mãe e o bebe durante o período em que ela está a amamentar, resultando em menos conhecimento e menos oportunidades para aconselhamento em amamentação. Alguns países implementaram políticas não baseadas em evidências, tais como separar bebés de suas mães e desencorajaram a amamentação na suspeita de COVID-19. Além disso, o apoio em amamentação de grupos de pares da comunidade não estava acessível aos pais que precisavam de ajuda por causa de contato social restrito.
Em relação ao aleitamento materno durante o período na pandemia do COVID-19, a mãe de quatro crianças disse que deve-se tomar a vacina durante o período que se está a amamentar a criança. “ Eu encorajo as mães que estão a amamentar, de tomar a vacina contra COVID-19, porque uma mãe com COVID-19 não terá condições para amamentar o seu bebé. Eu pretendo amamentar a minha filha de cinco meses até aos dois anos de idade. Eu já tomei a vacina contra COVID-19 e também a dose de reforço. ” Adianta Lúcia
Até o momento, a transmissão activa da doença por meio do aleitamento materno não foi detectada. Por isso, recomenda-se que mães com suspeita ou confirmação de COVID-19 que iniciem ou continuem amamentando seus bebés. Os benefícios do aleitamento materno superam consideravelmente os potenciais riscos de transmissão do coronavírus, para alem de o investimento para o aleitamento materno ser relativamente de baixo custo.
A semana mundial do aleitamento materno deste ano (WBW2022), cujo lema é “Intensificar a amamentação: Educar e apoiar”, concentra-se na educação e apoio às mulheres para amamentarem os seus bebés. Também centrar-se no reforço da capacidade dos actores, incluindo governos, sistemas de saúde, locais de trabalho e comunidades, que devem proteger, promover e apoiar o aleitamento materno em diferentes níveis da sociedade.
Lúcia Daude, como exemplo de mãe que decidiu dar aleitamento exclusivo à sua criança mais nova, também encorajou as mães a terem muita coragem de fazer o mesmo. “Eu sei que é difícil, e às vezes as mães não têm apoio e conselhos por parte dos seus familiares ou das suas amizades. Mas para mim a mãe tem que ganhar coragem e ter auto-motivação para fazê-lo porque estará a fazer algo muito importante para o seu bebé”.
Pelágio Carlos Araújo Técnico de Nutrição do Centro de Saúde da cidade de Lichinga há quatro anos explica que as sessões de demonstração culinária e aconselhamento sobre aleitamento materno têm ajudado muito as mães em optar por amamentar as suas crianças nos seis primeiros meses de vida.” Por mês, nos recebemos cerca de 120 crianças nas consultas de crianças sadias. Nos últimos meses recebemos dois casos de diarreia em crianças menores de 6 meses. De um modo geral as mães aceitam amamentar os seus bebés, apesar de que no terceiro e quarto mêses de idade da criança, algumas mães por razões de trabalho começam a introduzir leite artificial. Aqui no centro de saúde eu sempre aconselho às mães para darem aleitamento exclusivo aos seus bebés até os 6 meses de idade”. Diz o Técnico de Nutrição.
O leite materno é também uma fonte crítica de energia e nutrientes durante a doença, e reduz a mortalidade entre as crianças desnutridas. A OMS recomenda o aleitamento materno até os 2 anos ou mais e de modo exclusivo até os primeiros seis meses de vida.
Em resumo, segundo a Dra. Néllia MUTISSE ponto focal para nutrição do escritório da OMS em Moçambique. “O leite materno é a melhor proteção natural para a criança. As crianças amamentadas adoecem menos. O risco de infecção pela COVID-19 é baixo, já as consequências de não amamentar podem ser significativas. O início precoce do aleitamento materno, dentro de 1 hora após o nascimento, protege o recém-nascido de adquirir infecções e reduz a mortalidade neonatal, e pode reduzir em 13% a mortalidade infantil. A amamentação exclusiva até os seis meses traz muitos benefícios para o bebé e para a mãe. O leite materno é uma das maneiras mais efetivas de proteção contra a diarreia infecções de ouvido e pneumonia. As chances de desenvolver problemas relativos à alimentação, como a desnutrição e obesidade são menores. A longo prazo, a amamentação reduz os riscos de a mulher desenvolver o câncer de mama. Amamentação é importante para o desenvolvimento da criança, melhora o QI (desempenho), bem como a frequência escolar”.
A amamentação pode ser uma forma maravilhosa de fortalecer a ligação entre uma mãe e uma criança. Também oferece uma nutrição perfeita para um bebé em crescimento, ajudando a prevenir tanto a desnutrição como a obesidade mais tarde na vida.