Reportagem fotográfica sobre a campanha de vacinação contra a cólera em Dondo, Sofala, Abril 2019
Em Sofala, até hoje, milhares de pessoas receberam a vacina oral contra a cólera como parte de uma campanha de vacinação de emergência de seis dias, liderada pelo Ministério da Saúde, para ajudar a prevenir a propagação da cólera, para outras regiões.
Na Escola Primária 7 de Abril, na aldeia de Inhamayabwe, perto da cidade do Dondo, as crianças da escola excitadas reúnem-se nas suas salas de aula, empurrando – se umas às outras para a frente da sala de aulas lotada, onde cada criança recebe a sua dose de vacina contra a cólera.
A Amélia Mateus, uma técnica de medicina preventiva, está a liderar a campanha neste Posto de Vacinação, um dos 73 postos de vacinação no distrito do Dondo. À medida que cada criança avança, ela tira um pequeno frasco de vidro do tabuleiro, inspecciona-o e agita-o vigorosamente antes de remover a tampa. Ela inclina suavemente a cabeça da criança para trás e, com uma mão no queixo, encoraja-a a abrir bem a boca. Ela agita o frasco de 1,5 ml e introduz o líquido da vacina na boca da criança, uma vez finalizado o processo de toma da vacina, Amélia pede a criança para sair.
"Não cuspa", diz ela a um menino que está a franzir a testa por causa do gosto da vacina. Pode não ter um bom sabor, mas esta vacina vai proteger estas crianças de algo muito pior - a horrível e por vezes mortal doença diarreica, a cólera.
O José, um voluntário, está a marcar a ficha de registo que mostra o número de pessoas vacinadas. Mais de 1200 voluntários estão a apoiar o Ministério da Saúde e parceiros nesta campanha gigantesca e urgente. Cada equipa de vacinação é liderada por um profissional de saúde e mais três pessoas para apoiar na preparação dos frascos de vacina, na contagem das vacinas dadas e na marcação das unhas dos já vacinados.
“Estamos a realizar esta campanha porque a cólera é uma grande ameaça à saúde pública", diz a Amélia. "Nesta escola desde que começámos às 7 horas da manhã, já vacinámos 1300 crianças”.
Desde que o ciclone IDAI atingiu Moçambique a 14 de Março último, centenas de milhares de pessoas vivem nos Centros de Acomodação sem acesso a água potável e saneamento adequado. O Ministério da Saúde declarou um surto de cólera a 27 de Março e, a 5 de Abril, tinha registado já mais de 2430 casos e 3 mortes.
No dia 2 de Abril, chegaram à Beira cerca de 900 000 doses de vacina oral contra a cólera. Foram doadas a partir da reserva Mundial de vacinas contra a cólera que é financiada pela Aliança Mundial para Vacinação e Imunização (GAVI). A Campanha é liderada pelo Ministério da Saúde com o apoio da OMS, UNICEF, Médicos Sem Fronteiras (MSF), Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC) e pela Save the Children.
Em menos de 24 horas após a sua chegada à Beira, em Sofala, as primeiras pessoas começaram a receber a vacina.
Numa visita à Beira, a Ministra da Saúde de Moçambique, Dra. Nazira Abdula, reuniu-se com a OMS e com outros parceiros e reconheceu o grande apoio à campanha de vacinação oral. "É muito difícil lançar uma campanha desta envergadura em apenas três dias", disse ela.
A Representante da OMS em Moçambique, Dra. Djamila Cabral, disse: "Esta campanha não teria sido possível sem o forte envolvimento das autoridades locais e das próprias comunidades. O número de voluntários é impressionante e, onde quer que seja, tem havido uma adesão muito forte à vacina. Todos estão muito empenhados em fazer desta intervenção um sucesso para acabar com a disseminação da cólera”.
As vacinas estão a ser administradas à populações identificadas pelo Governo com maior risco de contrair cólera - aquelas sem acesso a água potável e saneamento adequado - na Beira, no Dondo, em Nhamatanda e no Buzi. "O controlo da cólera nestas áreas irá reduzir o risco para o resto da população, porque menos pessoas da comunidade irão circular com o vibrião ", disse a especialista em vacinação contra a cólera da OMS, Kate Alberti.
Cerca de uma semana após receber a vacina, a pessoa vacinada desenvolve protecção contra a cólera. Uma dose única protegerá por cerca de 6 meses.
A Dra Maria Judith é uma médica que trabalha na área de Saúde Materno-Infantil no Centro de Saúde do Dondo. Ela é responsável pelo Posto de Vacinação aqui, um dos 15 pontos fixos do Dondo. Para além deste posto fixo, existem cerca 60 unidades móveis de vacinação que circulam pelo distrito, e há planos para de fazer vacinação casa a casa no final da campanha para garantir uma cobertura total. No total, as autoridades sanitárias locais mobilizaram mais de 340 equipas para esta campanha.
"A cólera é uma doença que se propaga por falta de água potável e de saneamento adequado", disse a Erica, uma estudante da 8ª classe da Escola Secundária Macharote, no Dondo. Erica é uma dos milhares de alunos do ensino médio que foram vacinados no dia 4 de Abril. Ela mostra a marca preta na unha da mão esquerda para provar que recebeu a vacina.
"Você deve lavar as mãos, especialmente antes de comer e depois de ir à casa de banho, não deixe o lixo espalhado e evite água suja.