Semana Africana da Vacinação e 50.º aniversário do Programa Alargado de Vacinação (PAV)

Mensagem da Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África


Todas as semanas de Abril, celebramos a Semana Africana da Vacinação e a Semana Mundial da Vacinação, para aumentar a sensibilização para a importância das necessidades e do direito de cada pessoa a ser protegida contra doenças evitáveis pela vacinação. Mantemos a vacinação no topo das agendas nacionais e regionais para comunidades saudáveis. Este ano, 2024, a semana abraça outro marco: o 50.º aniversário da vacinação.


Durante meio século, a vacinação esteve na vanguarda dos nossos esforços regionais de saúde, salvando milhões de vidas e transformando o panorama da saúde pública em “Salvaguardar o nosso futuro”.


O Programa Alargado de Vacinação da OMS  lançado em 1974 foi crescendo e alargando-se, passando das seis doenças inicialmente visadas inicialmente (difteria, sarampo, poliomielite, tétano, tuberculose e tosse convulsa) para 14 doenças evitáveis pela vacinação.


Em meados da década de oitenta, todos os países da nossa Região tinham criado programas nacionais de vacinação. Desempenhámos um papel único e crucial no apoio aos nossos Estados-Membros e na coordenação dos parceiros de vacinação.


Reflectindo sobre esta viagem, não podemos deixar de nos maravilhar com os resultados, incluindo a erradicação da varíola em 1979 e do poliovírus selvagem em 2020, bem como com os esforços em curso para controlar os surtos de sarampo no nosso continente.


Entre 2000 e 2022, reduzimos as mortes anuais por sarampo em 76%, com uma estimativa de 19,5 milhões de mortes evitadas ao longo dos 22 anos em que embarcámos nos esforços de controlo do sarampo.


Além disso, a Região registou um declínio dramático das mortes causadas pela meningite em até 39%, entre 2000 e 2019. Este é um feito significativo da saúde pública devido, em parte, à introdução e à distribuição da vacina contra a meningite A em 2010. Não foram encontrados casos de meningite causada pela estirpe do tipo A desde 2017.


Os progressos realizados na eliminação do tétano materno e neonatal na nossa Região também foram louváveis. Até Março de 2024, a eliminação desta doença foi validada por 43 dos 47 países africanos com carga elevada de morbidade, representando 91% dos nossos Estados-Membros da Região Africana.


Ao longo dos anos, temos assistido a um aumento constante das taxas de cobertura vacinal, que foi possível graças a uma forte colaboração com os Estados-Membros, organizações internacionais, profissionais de saúde e comunidades. Na OMS, temos trabalhado em colaboração com os parceiros para lançar iniciativas especiais que visam reforçar os esforços de vacinação. 


A Iniciativa Mundial para a Erradicação da Poliomielite, lançada em 1988, a Aliança Mundial para as Vacinas em 2000, a Iniciativa Mundial para o Sarampo e a Rubéola em 2001, o Plano de Acção Mundial para as Vacinas em 2012 e a Agenda 2030 para a Vacinação em 2020, que estabelecem uma nova agenda para os esforços de vacinação entre 2021 e 2030, estão entre as iniciativas que têm sido fundamentais para impulsionar o progresso da vacinação.
Tem sido uma viagem marcada pela determinação, colaboração e inovação.


Também teve a sua quota-parte de desafios, incluindo infra-estruturas de cuidados de saúde insuficientes, escassez de profissionais de saúde qualificados, recursos limitados para a aquisição de vacinas, hesitação em vacinar e desinformação, ainda mais exacerbada pela pandemia de COVID-19.


Além disso, alguns dos nossos Estados-Membros continuam a enfrentar conflitos, instabilidades, crises humanitárias e outras emergências concomitantes devido aos impactos das alterações climáticas, que exacerbam as vulnerabilidades de sistemas de saúde fracos.


Apesar destes desafios, os países africanos estão a dar prioridade à saúde, investindo na vacinação e nos sistemas de cuidados de saúde primários no sentido mais lato, e incentivando as parcerias e a colaboração, o que os está a ajudar a fazer progressos significativos no sentido da saúde para todos.


A nossa resposta colectiva a surtos e emergências, como o Ébola e a pandemia de COVID-19, exige adaptabilidade, determinação, resiliência e inovação na prestação dos serviços de vacinação.


A luta contra a poliomielite é um grande exemplo. Através de esforços concertados, os casos estão em declínio constante, e os líderes da saúde em toda a Região, como patrocinadores da vacinação, prepararam o caminho para proteger todas as crianças contra este vírus.


Temos de continuar a apoiar e encorajar os países a aumentarem ainda mais a cobertura vacinal e a interromperem a transmissão dos tipos 1 e 2 do poliovírus variante. No final de 2023, a Região reduziu o número de casos de variantes circulantes do poliovírus passou de 438 para 304 (uma redução de 31%) no espaço de um ano.
Podemos esforçar-nos por travar a transmissão da poliomielite no próximo ano com determinação e colaboração colectivas.


Com base nas lições aprendidas, os esforços para colmatar as lacunas na cobertura vacinal foram intensificados através das campanhas “de grande repescagem”, que visam alcançar as crianças que não foram vacinadas.


Num movimento histórico, a introdução da vacina contra o paludismo na nossa Região foi um desenvolvimento significativo na luta contra esta doença mortal e levou ao lançamento de uma iniciativa regional: Acelerar a Introdução e a Distribuição das Vacinas contra o Paludismo em África (AMVIRA). A introdução da vacina contra o paludismo em todos os países será um factor de mudança e tem o potencial de alterar significativamente o panorama da luta contra o paludismo com novas ferramentas para complementar as medidas de prevenção e controlo existentes.


Tirando partido de estratégias de distribuição inovadoras para os serviços de vacinação, embarcámos em iniciativas de investigação e desenvolvimento para novas vacinas, com vista a melhorar as infra-estruturas de cuidados de saúde e a capacidade científica da África.


Estão em curso esforços para reforçar a capacidade de investigação sobre vacinas em África, e os nossos Estados-Membros estão a aumentar os investimentos para fazer progredir o desenvolvimento das vacinas no continente. Através da nossa plataforma do Fórum Africano para a Regulamentação das Vacinas (AVAREF), continuamos a envolver os membros do AVAREF na Região, ao mesmo tempo que fornecemos supervisão, conhecimentos técnicos especializados e oportunidades de colaboração para desenvolver e avaliar as vacinas no continente.


No momento em que comemoramos a Semana Africana da Vacinação e a Semana Mundial da Vacinação deste ano, lembro aos nossos Estados-Membros os dez compromissos assumidos na Declaração de Adis Abeba sobre Vacinação, aprovada pelos nossos Chefes de Estado em 2017. Representa um compromisso partilhado por parte dos governos africanos para reforçar os programas de vacinação e acelerar os progressos para alcançar o acesso universal às vacinas.


A minha mais profunda gratidão vai para todos os nossos Estados-Membros pelo seu empenho inabalável na promoção da saúde e do bem-estar das nossas populações. 


Os meus agradecimentos vão também para os nossos profissionais de saúde e para as nossas comunidades pelos seus esforços diários no sentido de alcançar e prestar serviços de vacinação a todas as populações elegíveis. Sem eles, todo esse trabalho não seria possível.


À medida que avançamos para 2030, há ainda muito a fazer para alcançar as metas regionais e mundiais alinhadas com os objectivos da Agenda 2030 para a Vacinação.


Continuemos a trabalhar juntos, para além dos sectores e das fronteiras, e forjemos o caminho para um continente mais saudável, onde todas as crianças e adultos tenham a garantia de receber vacinas que salvam vidas.